Todos nós possuímos uma série de cavidades intercomunicantes dentro de nosso cérebro. Elas são preenchidas por um líquido que é secretado continuamente por estruturas glandulares chamadas de plexo coróide. Se houver uma obstrução ao livre trânsito do líquido, ele se acumulará comprimindo o cérebro contra os ossos do crânio. O tratamento mais comum é a instalação de um tubo que drena o excesso de líquido para fora do cérebro. Em alguns casos, a localização peculiar da obstrução permite outro tipo de tratamento chamado de terceiroventriculostomia(ver)
Ventrículos normais Ao se pressionar o primeiro botão, um corte sagital do sistema nervoso é revelado, com o sistema ventricular em destaque na cor azul. Os ventrículos são cavidades naturais do cérebro onde é produzido e circula o líquido cefalorraquiano ou liquor.
Trânsito liquórico Ao pressionar este botão, torna-se possível entender a dinâmica da produção e circulação do liquor acompanhando-se a seta amarela. A principal função deste líquido é proteger o cérebro contra eventuais choques mecânicos, mas também desempenha importante papel na na proteção biológica do sistema nervoso, distribuindo nutrientes e agentes de defesa contra infecções. O liquor é produzido por estruturas glandulares chamadas de plexo coróide e, após circular pelo interior do cérebro, é absorvido pela circulação sangüínea em sua maior parte por corpúsculos localizados ao longo de uma grande veia situada na parte interna do topo do crânio. Para chegar a estas estruturas, o líquido circula pelos ventrículos até sair por pequenos orifícios situados na parte posterior da medula, logo abaixo do quarto ventrículo
Obstrução do aqueduto Ao pressionar agora este botão, observe que simulamos uma progressiva obstrução do estreito canal que une o terceiro ao quarto ventrículo, interpondo um obstáculo à livre passagem do liquor que desce das regiões superiores. Observe que o líquido caminha no sentido da obstrução até ser barrado pela obstáculo (seta vermelha).
Dilatação ventricular Uma pessoa adulta produz cerca de 100 ml de liquor por dia, em um ciclo ininterrupto de produção e absorção. É um estado de equilíbrio dinâmico (o volume produzido em uma parte do sistema é absorvido simultaneamente em outra parte). Se houver algum problema que obstrua o livre trânsito do líquido, ele se acumulará dentro dos ventrículos. O volume crescente dos ventrículos comprimirá o cérebro contra os ossos do crânio provocando uma série de sinais e sintomas neurológicos. Neste caso, ao simularmos uma obstrução do aqueduto de Sylvius que comunica o terceiro com o quarto ventrículo, provocamos um acúmulo de líquido predominante no terceiro ventrículo e nos ventrículos laterais
Cateter de derivação
O tratamento mais comum para este acúmulo de líquido no interior do cérebro é a instalação de um cateter ou tubo de silicone que drenará o excesso de liquor geralmente para a cavidade abdominal (em alguns casos, o líquido é drenado para o átrio cardíaco). Uma das pontas é inserida no interior da cavidade cerebral que contém o líquido. A outra ponta, após ser passada por debaixo da pele do pescoço e do tórax, é inserida na cavidade abdominal. Assim, o excesso de líquido é retirado de dentro do cérebro, aliviando a pressão intracraniana e reduzindo os sintomas neurológicos. Vasos sangüíneos presentes na superfície das alças intestinais absorverão o líquido que o tubo trará do cérebro para o abdômen. Observe que existe um dispositivo entre as duas pontas do cateter que pode ser palpado entre a superfície externa do crânio e a pele da pessoa. É uma válvula que serve exatamente para garantir que o líquido será drenado de dentro para fora do cérebro e não o contrário. Existem vários tipos de válvula à disposição do neurocirurgião atualmente. A escolha do mecanismo dependerá de fatores intrínsecos ao paciente e ao cirurgião
Complicação Infelizmente podem ocorrer complicações com o mecanismo de drenagem. A mais comum é a obstrução da ponta inserida dentro do cérebro seja por infecções locais, coágulos sangüíneos ou por precipitação de proteínas presentes na composição do liquor formando verdadeiras rolhas nos orifícios de entrada do cateter. A conseqüência é a parada da drenagem levando ao aumento do volume ventricular e compressão progressiva do cérebro contra a superfície interna do crânio. A pessoa apresentará os sintomas característicos do aumento da pressão intracraniana como distúrbios visuais, cefaléia, náuseas, vômitos em jato, sonolência, convulsões etc., podendo até chegar à morte se não houver pronta interferência médica para sanar o problema. Uma vez constatado o mau funcionamento do cateter pelo neurocirurgião, ele operará o paciente para substituí-lo por um outro. Há muitos casos de pacientes que nunca necessitaram de trocas de válvula ao longo de suas vidas. No entanto, existem casos em que a substituição do sistema foi necessária muitas vezes, independentemente do tipo de válvula ou da técnica cirúrgica empregada
Descrição da animação digital narrada por Dr. Hermes Prado Jr
Observações Existe uma técnica mais atual e com resultados mais próximos do fisiológico que é a terceiroventriuclostomia por neuroendoscopia. Neste procedimento, é realizado um orifíco no assoalho do terceiro ventrículo para oferecer ao liquor represado uma saída alteranativa para fora do encéfalo. Devido à localização do orifício a ser realizado, esta técnica beneficia somente aqueles casos em que a obstrução se encontra após o terceiro ventrículo, como nas estenoses ou obstruções do aqueduto de Sylvius.
Visite o website www.hidrocefalia.com.br para mais informações sobre defeitos do tubo neural (nossa autoria também)
Feto com aproximadamente 24 semanas. À esquerda, perfil normal e, à direita, com hidrocefalia. As deformidades ocorrem porque, durante o desenvolvimento encefálico e perdurando até os 2 anos de idade, os ossos do crânio são unidos por membranas fibrosas que somente mais tarde se ossificarão. A pressão exercida pelo cérebro em expansão faz com que o crânio cresça em um ritmo anormalmente acelerado e deformado (fotografia e arte digital de Dr. Hermes Prado Jr)